
Texto - SUSTENTABILIDADE
04-06-2010 19:00
Consciência: o X da questão
Estamos vivendo uma era de turbulências sociais, econômicas e ambientais. Surpresa? Para os nada maliciosos, talvez sim. Certamente, as pequenas e equivocadas atitudes de curto prazo do ser humano tem resultado em grandiosas e preocupantes conseqüências. Vejamos os acontecimentos atuais. No final de 2008 a crise financeira que afetou a muitos de nós com recessão e desemprego foi, em sua essência, causada por um modelo de sociedade hiperconsumista, falta de ética empresarial e de governança corporativa, ou seja, alguns dos conceitos que estão sob o guarda-chuva da sustentabilidade. Ainda mais recentemente, se no Haiti houvesse istituições governamentais fortes, uma economia desenvolvida, e uma sociedade onde a qualidade de vida fosse boa para todos, como na Islândia, o terremoto, que matou milhares de pessoas, talvez teria sido mais parecido com as cheias provocadas pelo degelo da geleira Eyjafjällajökul, que não chegou a causar nenhuma morte, apenas danos materias. Você acha esses acontecimentos muito longe da sua realidade? Que tal as enchentes e desmoronamentos que estão acontecendo por todo o Brasil, grande parte por causa do lixo nas ruas e do desmatamento que impede a penetração da água pelo solo?
Enfim, não adianta focar no que nós e nossos antepassados fizeram e no que já aconteceu, devemos, sim, tentar fazer o melhor que pudermos para o nosso futuro. Como mudança exige auto-análise, antes de querermos mudar o mundo, que tal olharmos para o próprio umbigo? Diante de uma análise mais profunda do “homem cordial” brasileiro, existem evidências que provam a tendência do mesmo ter uma visão de curto prazo (e, para você, isso não deve ser novidade alguma, mas deveria lhe servir de alerta...). Um dos motivos da fraqueza de nossas instituições pode ser evidenciado pela falta de comprometimento para com as gerações futuras. Logo, é mais do que necessária uma mudança na consciência, principalmente, daqueles que terão participação significativa na sociedade em pouco tempo: a Geração Y.
No Brasil, estes jovens nasceram no crescimento econômico e na estabilização da democracia. Geralmente possuem ótima formação, falam vários idiomas, viajam sempre, têm interesses variados e grande acesso a informações, principalmente pela habilidade no uso de novas tecnologias como a internet. Se identifica? Essa geração nasceu entre 1978 e 1994 o que significa que, provavelmente, você faz parte dela. De acordo com pesquisas, nossa geração valoriza a ética, o respeito, justiça, segurança, responsabilidade social e a igualdade, o que nos torna pessoas com alto potencial de pensar coletivamente e sermos conscientes. Porém, possuímos algumas características que fazem com que sejamos um pouco descompromissados. O fato de nunca termos vivido instabilidade política ou presenciado reivindicações significativas, por exemplo, faz como que sejamos uma geração apolítica. Alguns dos valores e características evidentes como: a ambição, reconhecimento, sucesso, vaidade, impaciência, arrogância e a superficialidade fazem com que sejamos altamente individualistas, com que queiramos fazer escolhas sem pressão e tenhamos a necessidade de nos satisfazer com urgência resultando em um pensamento de curto prazo.
O uso de recursos garantindo a qualidade de vida de nossos descendentes está relacionado a uma visão de longo prazo. Claramente, portanto, pode-se perceber que ameaçar esses líderes do amanhã com possíveis eventos catastróficos de um futuro distante pode até chamar a atenção, mas não irá causar o interesse e muito menos o desejo de agir a favor da sustentabilidade. Por exemplo, se considerarmos (somente para reflexão) “Sustentabilidade” como uma marca, claramente precisaríamos mudar a imagem, mensagem e sensações que ela passa, pois poucas pessoas, atualmente, estão dispostas a adquirí-la ou se relacionar a ela. Isso acontece, pois ela está ligada a eventos catastróficos e restrições ao estilo de vida que todos mais gostam: a maximização do lucro e alto padrão de consumo. Por essas razões, a sustentabilidade não está presente nos desejos atuais das pessoas. Pior do que isso, ela é evitada e ignorada.
Para conscientização, não devemos tentar criar desejos voltados à sustentabilidade dizendo o que todos precisam fazer, mas sim transformar desejos atuais em sustentáveis, para que os futuros desejos já nasçam assim naturalmente. Empresas como a Osklen, Natura, Ecofit,o Banco Real,TerraCycle e até o filme Avatar são exemplos de como essa conscientização deve ser feita de modo que as pessoas se sintam atraídas pelo tema. Eles exploram assuntos de seu interesse e desejo como moda, beleza, saúde, bem-estar, dinheiro, tecnologia, e inserem no conjunto a sustentabilidade, que passa a ser relacionada com algo "cool" e pode passar a virar um desejo. A partir desse momento, o indivíduo procurará saber mais e assim agir, por vontade própria.
Muitas pessoas, entretanto, já conscientes se perguntam: "como agir?" Além de ações básicas - como comer comida orgânica, reciclar o lixo, tomar banho em menos tempo, desligar luzes e aparelhos eletrônicos quando não estão sendo usados etc - algo que podem os ajudar a selecionar empresas responsáveis são as certificações hoje disponíveis: poucas, porém válidas. A FSC, RES, IBD, ISO e e-fabrics são alguns exemplos.
Por fim, é importante lembrarmos de uma simples frase que tem origem dos ameríndios e que resume o que queremos passar: “Não herdamos a terra de nossos ancestrais. Nós a tomamos emprestado de nossos filhos”. Lembrem-se disso.
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